segunda-feira, 2 de maio de 2011

A montanha dos muitos abutres



"Se não houver notícias, vou lá fora e mordo um cachorro." Frase citada por Kirk Douglas no filme dirigido por Billy Wilder, Ace in the Hole, nos deixa uma reflexão sobre até que ponto um repórter iria por uma notícia.
Notícia, circo, show. Até que ponto vai a ética jornalística quando o principal pensamento é vender notícia e entrar para a história?
O filme americano, produzido em 1951, é extremamente atual. Quando acompanhamos a saga do repórter Charles Tatum que afirma que matéria jornalística é algo grandioso, é um show com longas suítes, e se algo grandioso não acontecer e as notícias forem as rotineiras, vá buscar um gancho e manipule a situação para atrair multidões, todos os jornais e para tornar-se um herói. Com esse pensamento, o protagonista mostra como o sensacionalismo pode ser feito e como o jornalista pode perder o controle da situação criada pelo mesmo.
Quando ligamos nossa televisão em pleno século XXI e deparamos com a “imprensa marrom” dominando os canais televisivos, vibramos, ficamos alucinados acompanhando todo aquele show que nos enche os olhos e nos faz viver um conto de fadas, uma novela, algo digno de Hollywood – o fato inusitado, o escândalo que acontece na vida real com pessoas reais.
Umas guerras de emissoras de televisão as fizeram explorar uma chacina cometida em uma escola em Realengo – RJ há menos de um mês, era uma competição de quem mostrava mais imagens de crianças sangrando, de corpos, de familiares desesperados, quem traçava o melhor perfil psicológico do assassino, foi um verdadeiro show, digno de aplausos. Outro caso foi o da Guerra Urbana que teve início na última semana de novembro de 2010, uma emissora cobriu por 24h o caso ao vivo, foi tanto escarcéu que a transmissão atrapalhou a operação dos policiais facilitando a fuga dos bandidos que acompanhavam a cobertura a ser televisionada.
O papel do jornalista é informar, é ir para a mesa escrever o acontecimento, ser imparcial (o que não aconteceu no caso Isabela Nardoni, a mídia acusou Alexandre Nardoni e Ana Carolina Jatobá, sem ter provas, fazendo assim a população se revoltar contra o casal), ir atrás da verdade, independente se há um governo pressionando por trás ou se tal cobertura simples – não simplória – não rende a fama necessária para seus mil dólares. Antes de tudo, o jornalista deve ser jornalista, e manter seu foco em tal ética e não vender a alta por qualquer luz de ribalta e entrar em um beco sem volta e nem saída.

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